Polémico, interventivo e uma das vozes mais ativas da nossa liga: Mauro Rodrigues fala-nos nesta entrevista sobre tudo o que espera dos Lakers, especialmente após algumas movimentações que o deixam, no papel, mais forte numa conferência de competitividade sem precedentes. Algures entre a ambição desmedida e o realismo pragmático, sabemos que os Lakers tem um dos melhores jogadores do mundo e um supporting cast capaz de colocar "em sentido" equipas melhor posicionadas. Não perca a oportunidade de conhecer melhor a visão da mais clássica equipa de LA.

Filipe Pardal - No início da época dizia que começava a temporada melhor do que no ano transacto, mas parece que a história de repeitiu e os Lakers vêem-se agora obrigados a ir atrás de um prejuízo já distante dos lugares cimeiros. O que falhou?
Mauro Rodrigues - Boa noite! O que falhou? Eu. A nossa intenção é, ano após ano, sermos mais competitivos e chegar mais longe. No final da última época perdemos alguém que foi muito importante para nós, Pascal Siakam, e ainda deixámos o nosso Big Man, Jonas Valanciunas sair. Talvez tenhamos começado esta época da pior maneira, ainda antes de começar. Em retrospectiva, talvez os 15M que o Valanciunas pedi fossem, para o desempenho que tinha mostrado em campo, justos. Decidi não renovar e ir à procura de um all star e de algo mais para compor o cinco. Ainda antes de começar a FAP, já tinha o substituto do Valanciunas acordado (Gobert). Já no FAP, cedo percebi que o Siakam (principal alvo) estar no último tier me ia trazer problemas e dificilmente iria conseguir com que ele voltasse a vestir esta camisola. Foquei-me no "tubarão" mais versátil disponível, DeMar DeRozan, e contratei ainda dois assets que me pareceram bastante válidos. A verdade é que, apesar de ter saído do FAP satisfeito, cedo percebi que não ia ser suficiente. Percebemos tarde que o melhor remendo que tínhamos para a posição 4 era Wiseman e, desde então, temo-nos batido bem, mesmo contra as equipas mais fortes da liga.
FP - Disse "posição 4" só para não dizer PF? Foram as letras que mais ouvimos da sua parte ao longo deste primeiro terço da época... Mas, passando à frente, mesmo sendo a qualidade defensiva de Vanderbilt indiscutível, não pode ficar curto a nível ofensivo já que só Shai e Reaves dão essas garantias na ausência de Derozan?
MR - Confesso que já me custa dizer "PF" e provavelmente, também custará a muitos, ler/ouvir isso de mim. A verdade é que em tantos anos disto, não me recordo de ter batalhado tanto para fazer uma troca. Jarred Vanderbilt foi, desde que identificámos a lacuna nesta posição, e sem contar com os All Stars, o alvo principal, defensivamente é um dos melhores e consegue contribuir, quanto baste, ofensivamente. Derozan dava mais garantias ofensivas, ainda assim, e só falando nos dois que entraram para o 5 inicial nesta troca, Vanderbilt e Giddey, não só vão acabar por colmatar ofensivamente a saída do DeMar, como vão equilibrar e melhorar a componente defensiva da nossa equipa.
FP - A pergunta surgiu porque a sua equipa é, à data da entrevista, "apenas" o 12º melhor ataque do ChampNBA. Ora, Derozan representava 19% dos pontos, se juntarmos Derozan a Shai não ficamos longe dos 50%. Entre a dificuldade - relativa - em marcar pontos, ganhar jogos de forma consistente e a dependência de SGA, o que é que o preocupa mais? E como é que pensa ultrapassar essas dificuldades?
MR - Dê-me um segundo, estou a receber uma chamada... é o Niko a ligar a pedir que lhe devolva o ficheiro de Excel. Todas as nuances que colocou me preocupam, mas uma coisa lhe garanto, preocupam-me menos agora do que quando tinha o DeRozan. Reitero que, estou completamente convicto que esses 19% acabaram por aparecer diluídos entre jogadores como Josh Giddey, Jarred Vanderbilt e Kelly Oubre Jr., por exemplo. Em acréscimo, alguém que tem um jogador como SGA e que diga que não é dependente dele, está mentir. SGA é, top3 dos jogadores mais decisivos da liga e só não está na luta pelo MVP, mais uma vez, por culpa minha. Pode ser que ainda vá a tempo. Sendo que acredito que o registo, daqui para a frente vai melhorar, não tenciono parar de mexer por aqui. A ideia agora passa por espreitar no mercado alguma hipótese de mexer na posição 5 e trazer alguém que me dê mais garantias ofensivas, mesmo que isso signifique perder um pouco da capacidade defensiva que Gobert, indiscutivelmente, tem.
FP - Agora que na sua opinião a equipa está mais pronta para ganhar, o que será uma temporada satisfatória no final de contas?
MR - Não tenho dúvidas que, pelo menos no papel, estamos mais fortes e com isso esperamos obter mais vitórias. A equipa está a ser construída e, nesta fase, é mais perigosa em matchup do que na época regular, em que apanhamos a cada simulação adversários muito diferentes. Através da versatilidade do nosso backcourt podemos tentar encaixar de várias formas, dependendo do adversário, e teremos sempre peças bastante eficientes a entrar na rotação que podem fazer a diferença. Dito isto, uma época que nos deixará satisfeitos é alcançar, pelo menos, a meia-final da nossa conferência. Estamos a apontar para isso, mas sabemos que temos muito que fazer e possivelmente ainda iremos mexer para tentar ficar ainda mais competitivos.
FP - Assumindo que não vai trocar Shai nem Reaves, qual é o plano para futuros negócios que o consigam elevar a um patamar onde consiga competir numa ronda de playoffs frente aos Grizzlies ou aos Kings, por exemplo?s?
MR - SGA tornou-se inegociável pelo pouco que o mercado ofereceu por ele. O mesmo já não se pode dizer de Austin Reaves que teve efectivamente boas propostas que acabaram por não se concretizar porque a nossa intenção era trocar DeRozan em vez de Reaves. Em relação a negócios ainda para esta época, sabemos que estamos todos a entrar numa fase de decisões, embora ainda falte muita coisa para acontecer, mas queremos tentar tornar-nos ainda mais fortes e para isso precisamos de trazer capacidade ofensiva no frontcourt. Para isso, a nossa intenção é trocar Rudy Gobert, provavelmente um dos melhores, senão o melhor Centro a defender da nossa liga, e trazer um Centro mais equilibrado entre defesa e ataque. Procuramos também encontrar um SF de raiz para a rotação que nos permita colocar o Oubre Jr. na posição de SG de rotação. Em relação aos matchups que falou, não estamos muito preocupados, a nossa versatilidade de backcourt e a profundidade do nosso banco pode, à data de hoje, colocar problemas a qualquer equipa da liga. Que o digam os GM's dessas duas equipas, principalmente o homem do sombrero (provocação amigável a ambos).
FP - Para si quem são os principais candidatos ao título? Os Lakers estão incluídos ou ficam-se por "causar problemas"?
MR - Agora? O melhor registo da liga pertence à equipa de Memphis, mas acho que, nos POs, quem parte na frente são os Bulls. Há algumas equipas que, tal como os Blazers fizeram no ano passado, entram nos POs como carraças chatas. Spurs são uma equipa que, não só pelo estudo tático de um GM super competente, mas também pelo roster vão ser difíceis de bater. Os Lakers têm uma dura batalha para se afirmarem na conferência Oeste e tentar acabar nos 6 primeiros. Dentro dos POs, principalmente no Oeste, acho que ninguém vai gostar de apanhar os Lakers. Se somos dos principais candidatos? Claro que não. Se podemos combater para trazer o anel? Podemos.
FP - Se pudesse escolher qual seria o seu 5 ideal da liga? Inclua GM e Head Coach.
MR - Shai, Doncic, Durant, Giannis, Jokic. GM Renato Mendes, Head Coach: Greg Popovich
FP - Muito obrigado pelo tempo dispensado nesta conversa que chega agora ao fim. Para terminar, a pergunta que gostamos de colocar a todos os GM's: gostaríamos de ouvir opinião sobre o Champ nesta época 2, especialmente em relação às "inovações" recentes, bem como dar-lhe oportunidade de deixar qualquer sugestão para o futuro.
MR - Obrigado eu por me deixarem mostrar a minha visão em relação ao que estamos a fazer em LA e também ao que eu penso que está a acontecer na liga. A temporada dois, para quem como eu anda no champNBA há muitos anos, é algo que, se compararmos com as primeiras temporadas parecia impossível de acontecer. As adições dos coaches, mas principalmente das novas variantes na DC permitem aos GMs terem mais "mão" na sua equipa. O que vai fazer com que os melhores GMs sejam cada vez melhores e os que menos tempo perdem nisto, sejam piores. Além das inovações, os novos GMs vieram trazer sangue novo e muito dinamismo. Último agradecimento vai para o mais recente conteúdo da liga, o podcast, que apesar de ainda não ter nome, já criou muito impacto na comunidade. A liga está bastante dinâmica e activa. Não tenho numa sugestão para o futuro.
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Os Lakers podem eliminar um "tubarão" numa ronda de Playoff?
Sim!
Não!
Têm potencial, mas já vão tarde este ano
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